quarta-feira, outubro 31, 2007

Mitos que metem medo

Ilustrações: Guazelli
Texto: Danilo Ribeiro

Em outubro, em várias partes do mundo, comemora-se o Halloween, ou DIa das Bruas. Tradição norte-americana. Mas será que é o caso de importar lendas alheias se temos tantos mitos capazes de botar qualquer bruxinha na sandália? Para rebater a data, há quem defenda: 31 de outubro é o Dia do Saci. Do Saci e de toda a sua turma, esses meliantes que vivem à solta, praticando toda sorte de malfeitorias. É hora de puxar a ficha corrida dessa gente e dar o veredicto. Podemos ou não tolerar tamanha série de abomináveis maldades? E mais: haverá cadeia capaz de conter a imaginação?

Atenção. Eles são capazes de qualquer coisa. De azedar o leite a raptar crianças que teimam em não dormir; de tirar gente do rumo de casa a roubar presentes. Quebram pontas de agulha, desferem coices, queimam os desavisados. Tem de todo o tipo, pra todo gosto e de todos os cantos. O Cabeça de Guia vem do Piauí; o Negrinho do Pastoreio, do Rio Grande do Sul; a Cobra Norato, do Pará; o Tibanaré, do Mato Grosso. Tem uns que não se sabe nem de onde vêm. A quadrilha é tão extensa que não caberia num almanaque dedicado todinho a ela.
Ao longo do tempo, perseguida, essa turma acabou se refugiando longe das histórias que contamos para as crianças. Em 1947, Câmara Cascudo já alertava para o risco de extinção. Em Geografia dos Mitos Brasileiros, para garantir-lhes sobrevida, resolveu prendê-los num campo, bem pobre e curto, mas enfim um campinho onde poderão ser vistos em maior número que no meio das matas, dos capoeirões e das várzeas brasileiras, dos rios, dos ares e das montanhas da Pátria. Fez efeito. Hoje, parte fundamental dos registros sobre nossa riqueza mitológica está nas páginas do patrono deste almanaque. E de lá, vira-e-mexe, saltam de volta para o terreno da imaginação dos leitores.

MAL NECESSÁRIO
Segundo o crítico literário Fábio Lucas, os mitos brasileiros servem de referência para que nos identifiquemos enquanto grupo social. "Se alguém fala na Iara, por exemplo, você sabe que é brasileiro. A nação identifica esses símbolos." No interior do País, lendas viram romances e cantorias em feiras. "Remetem a tempos fabulosos, em que o homem era um prolongamento da natureza, as árvores e os animais falavam", completa.
Este atenuante é válido. Mas como justificar o medo que instilam nas pessoas, dos senis aos mais jovens? O psicanalista Mário Corso, no livro Monstruário, defende que essa sensação colabora para nosso bem-estar: "É ótimo para as crianças. É mais fácil saber do que se tem medo. Ruim com eles, pior sem". Para Mário, na cultura ocidental, Deus e o Diabo travam batalha sem fim: enquanto um organiza, o outro bagunça o mundo. E com os dois em baixa atualmente, os entes fantasiosos cumprem bem o papel. "Precisamos desses monstros, pois sozinhos não conseguimos explicar o mal, por isso criamos símbolos para sintetizá-los". Que tenha início então o julgamento.

Saci: Já foi tema de livros, filmes e programas de tevê. Há três tipos: o Saci Trique, o Saçurá e o Pererê. Os dois primeiros são coadjuvantes, mas o último, com vocação para a liderança, é altamente perigoso. Delinquente de uma perna só, com capuz vermelho e cachimbo na boca, é acusado de amarrar o rabo de cavalos, atormentar cachorros e atropelas galinhas. Na cozinha, estraga a sopa, azeda o leite, além de queimar a comida. Apronta também com as costureiras, derrubando dedais, quebrando a ponta de agulhas, escondendo tesouras e embaraçando novelos. Deixa os pregos de ponta pra cima. Apesar da brandura de suas malvadezas, é réu reincidente. Prova disso é que Monteiro Lobato, já em 1918, compilou num inquérito as acusações que pesavam sobre o malandrinho, reunindo depoimentos de crianças de todo o Brasil - hoje, seguramente, todas avós, bisavós e tataravós. Acusação: Crime de injúria, caracterizado por ferir a honra pessoal da vítima. A ação penal prossegue mediante representação. Detenção de um a seis meses, ou multa, caso não haja acusações de maltrato a animais.

Mula-sem-cabeça: Alguns a conhecem como Burrinha de Padre. originalmente, era uma mulher. Desavisada, envolveu-se pecaminosamente com um padre. Daí em diante, toda a noite de quinta-feira se transforma em uma mula incrivelmente veloz, com uma chama no lugar da cabeça. De longe se ouve seu galope fantástico e seu cavalgar pesado, barulhento. Se calha de aparecer alguém atrás, desfere coices que cortam como navalhas. Toda a gente se assusta, bem como os bichos. Só quando o galo canta a terceira vez na manhã seguinte, volta à forma humana. Pela história de mulher sofrida, e pelo fato de já estar pagando por seus pecados, terá sua pena abrandada. Acusação: Lesão corporal. Pena de três meses a um ano de detenção. Cabível progressão de pena. O réu pode responder a processo em liberdade.

MBoitatá: Cobra de fogo, tem grandes e assustadores olhos. Vive na água, mas é na terra que persegue suas vítimas, com o pretexto de proteger as matas e os animais. Diz que só ataca quem maltrata a natureza. Mas há evidências em contrário: o jesuíta José de Anchieta, em 1560, relatou o caso da labareda viva que perseguia gratuitamente as pessoas. O que se sabe de concreto é que suas vítimas morrem, ou de medo ou queimadas. E que o algoz camufla-se atrás de vários pseudônimos: Boitatá, Bitatá, Batatá, Batatão e Baetatá.Um alerta. Se encontrar MBoitatá por aí, há duas saídas: ou ficar parado, estático mesmo, de olhos fechados e sem respirar; ou, caso você esteja sobre um rápido alazão, trate de fazer uma armadilha com uma corda. Quando alcançar boa velocidade, atire a corda com força contra uma árvore. MBoitatá se espatifará. mas não hesite: logo ela se reagrupa. Acusação: Falsidade ideológica: pena de reclusão de um a cinco anos e multa. Pode aguardar julgamento em liberdade. E também homicídio doloso privilegiado, por motivo de relevante valor social: pena mínima (seis anos).

Homem do Saco: Ser urbano, esse sujeito aterrorizador caminha pelas ruas com um saco nas costas. Se uma criança sai de casa sozinha, o elemento rapta-a de prontidão. Apesar de preferir crianças desobedientes, todas correm perigo. Uma vez dentro do saco, o apreendido descobre o que o homem carrega: mais crianças. Uma porção delas. É uma viagem só de ida. O modernista Menotti Del Picchia, em seu conto Salomé, relata a existência dessa figura, que se escondia sob o pseudônimo de Tinoco. Dizem que o Homem do Saco começou suas atividades ilícitas na Inglaterra, onde pais malvados amarravam fitas vermelhas nos pés da cama, indicando as crianças que poderiam ser levadas. Há quem diga que isso tudo é balela; que são ameaças dos pais para que seus filhos não saiam de casa inadvertidamente. Pelo sim, pelo não, cara criança, se vir um homem na rua com as características apontadas acima, volte correndo para dentro de casa. Acusação: Cárcere privado. Reclusão de até três anos. Caso se verifique a participação dos pais, agravamento da pena por formação de quadrilha.

Lobisomem: Criminoso astuto, começou suas atividades sabe-se lá onde. Para alguns, veio da Grécia, onde Licaon, rei da Arcádia, teria servido carne humana a Zeus. Furioso, o deus supremo o teria transformado em lobo. Fugiu então para Roma. Perambulou por séculos pela Europa. Depois de muito fugir, o maldito veio parar no Brasil. Dizem que se esconde hoje na paulista Joanópolis, no sopé da Serra da Mantiqueira, embora haja indícios que não seja um, mas muitos. Corre à boca pequena que leva vida dupla: de dia age naturalmente, sem despertar suspeitas. Mas em noite de Lua Cheia transforma-se em lobo. Vagando sobre quatro patas, se não mata suas vítimas, transforma-as em lobisomem. No dia seguinte, o bandido acorda com suas roupas rasgadas, cansado, apático e amarelo. A ciência ainda não descobriu cura para readaptar esse tipo à sociedade. Armas comuns são inúteis. Só há duas maneiras de contê-lo, dizem: tiro de bala de prata ou com projétil revestido com cera de vela de altar, no qual celebraram-se três missas natalinas. Acusação: Homicídio qualificado praticado por motivo fútil: vai a júri popular. Crime hediondo. Pena de 12 a 30 anos. Caso fosse réu primário, poderia cumprir parte da pena em regime aberto. Como é estrangeiro clandestino, está sujeiro a extradição sumária.

Cuca: Também conhecida como Coca, é velha, feia e desgrenhada. Aparece de noite para levar embora crianças inquietas, que teimam em não dormir quando os pais mandam. Não por acaso, existe uma canção de ninar (na verdade um aviso para os mais levado): Nana, neném, que a Cuca vem pegar / Papai foi pra roça, mamãe pro cafezal. Articulou uma quadrilha que possibilita agir simultaneamente em várias regiões do País, raptando crianças sem deixar rastro. Em diversas partes do mundo sabe-se de sua existência. Recentemente, passou por transformações tão radicais que testemunhas relataram parecer-se mais com um dragão, ou um jacaré: tem o corpo repleto de escamas, uma boca enorme e uma cabeleira vermelha (não se sabe se usa tintura). Acusação: Formação de quadrilha. Artigo 288 do Código Penal. Pena de um a três anos. Cárcere privado: até três anos de reclusão. Reincidente, circunstância agravante que aumenta o tempo de pena. Para diminuí-la, a defesa pode alegar crime continuado (dois ou mais crimes da mesma espécie).

Ouvidas as testemunhas, acusações e defesas, resolve-se livrar a barra dos acusados. A favor deles pesam os seguintes fatos: aguçam a curiosidade, revelam sobre nossa identidade, estimulam a criatividade, engrossam com muita sustança nosso caldo cultural. Que venham novos acusados, que se somem mais relatos, que se crie, no fértil terreno das idéias, tantos campos quanto puderem abrigar nossas lendas e mitos. E nem poderia mesmo ser diferente. Eles se multiplicam, estão em qualquer lugar, surgem a qualquer hora em que risque a fagulha de novas histórias. Afinal, haverá cadeia capaz de aprisionar a imaginação?

Veredicto final: ABSOLVIDOS

quinta-feira, outubro 25, 2007

Rabindranath Tagore


Escritor indiano, nasceu em Calcutá em 1861 e morreu em Bengala em 1941. Depois de educação tradicional na Índia, completou a formação na Inglaterra entre os anos de 1878 e 1880. Começou sua carreira poética com volumes de versos em língua bengali. Em 1931, recebeu o prêmio Nobel de literatura. Desde então, traduziu seus livros para o inglês, a fim de lhes garantir maior difusão. Em suas poesias, Tagore, oferece ao mundo uma mensagem humanitária e universalista. Seu mais famoso volume de poesias é Gitãñjali (Oferenda poética). Fundou, em 1901, uma escola de filosofia em Santiniketan, que, em 1921, foi transformada em universidade.

Gitanjali

Deixa a cantilena, o cântico e a recitação de contas de rosário!
A quem veneras neste recanto solitário e escuro dum templo de portas fechadas?
Abre teus olhos e vê que teu Deus não está diante de ti!
Ele está onde o agricultor está lavrando o chão duro e onde o pedreiro está rachando pedras.
Ele está com eles no sol e na chuva, e sua roupa está coberta de poeira.
Remove teu manto sagrado e como Ele desça para o chão empoeirado!
Libertação? Onde se encontra esta libertação?
Nosso mestre assumiu pessoalmente com alegria os vínculos da criação;
Ele está vinculado a nós para sempre.
Sai de tuas meditações e deixa de lado tuas flores e o incenso!
Que mal há se tuas roupas ficam gastas e manchadas?
Encontra-o e fica com Ele na faina e no suor de tua face.

Minha canção

Minha canção te envolverá com sua música, como os abraços sublimes do amor. Tocará o teu rosto como um beijo de graças. Quando estiveres só, se sentará a teu lado e te falará ao ouvido. Minha canção será como asas para os teus sonhos e elevará teu coração até o infinito. Quando a noite escurecer o teu caminho, minha canção brilhará sobre ti como a estrela fiel. Se fixará nos teus lindos olhos e guiará teu olhar até a alma das coisas. Quando minha voz se calar para sempre, minha canção te seguirá em teus pensamentos.

sábado, outubro 20, 2007

O DANÇARINO


Em uma floresta no sul da Índia habitava uma grande população de sábios hereges. Então Shiva resolveu passar por lá, afim de contrariá-los, e com ele foi Vishnu, disfarçado como uma linda mulher. O que aconteceu primeiro foi uma imensa confusão; os sábios começaram a brigar entre si. Mas logo se uniram para destruir Shiva, através de encantamentos... Humpf, mal sabiam o que estavam fazendo. Então fizeram um fogo sacrificial, e dele criaram um tigre ferocíssimo, que partiu para cima do Iogue. Mas sorrindo gentilmente, Shiva o dominou e, com a unha de seu dedo mindinho, arrancou sua pele e a amarrou na cintura, como se fosse um pedaço de seda. Com aquela cara-de-tacho, os sábios renovaram suas oferendas e produziram uma serpente monstruosa. Shiva olhou para aquilo e, com a maior tranqüilidade do mundo, dominou-a, colocando-a em seu pescoço como se vestisse uma guirlanda. Então ele começou a dançar. Numa última e desesperada tentativa, os sábios enviaram sobre ele um último monstro, na forma de um anão maligno. O deus pressionou-o sob a ponta de seu pé, e quebrou as costas da criatura, que se retorceu no solo. E então, com seu último inimigo prostrado, Shiva parou de dançar.

Essa é a representação de Shiva como Nataraja, o rei dos dançarinos. Mas para entender o conceito do Nataraja, é preciso compreender a dança em si. Assim como a Ioga, a dança nos leva ao transe, ao êxtase, à vivência do divino, à compreensão da própria natureza e à ligação com a essência divina. Por isso, na Índia, a dança conviveu lado a lado com as severas práticas ascéticas e meditação (jejuns, exercícios respiratórios, introversão absoluta). O que explica o fato de Shiva, que é o Grande Iogue dos deuses, ser também o senhor da dança.

A dança é um ato criador. A dança de guerra converte os homens em guerreiros, despertando suas virtudes bélicas. A dança da caçada antecipa o êxito da caça, transformando os participantes em infalíveis caçadores. Para despertar os poderes da fecundidade, os dançarinos imitam os deuses da vegetação, da sexualidade e da chuva. Dessa forma, ela tem uma função cosmogônica, ou seja, desperta as energias que estão adormecidas dentro de nós para que dêem forma ao universo. Shiva é o Dançarino cósmico, incorpora em si mesmo a energia eterna que torna manifesta. As forças que reúne e projeta são os poderes da evolução, preservação e dissolução do universo. A natureza e todas as criaturas são o efeito dessa dança eterna.

A iconografia da imagem do Nataraja é repleta de significados. Sua mão direita superior leva um pequeno tambor, tipo uma ampulheta, que serve para a marcação do ritmo de sua dança. Ele é o som, veículo da fala e portador da revelação, tradição, encantamento, magia e verdade divina. Na Índia, o som é associado ao éter, o primeiro dos cinco elementos. Dele emanaram ar, fogo, água e terra. Por isso, som e éter significam o verdadeiro momento da criação. Há também uma lenda que diz que quando Shiva concedeu a sabedoria ao ignorante Panini (hoje reconhecido como um grande conhecedor da gramática sânscrita), o som do tambor encapsulava a totalidade da gramática sânscrita. Tanto que o primeiro verso da gramática de Panini é chamado de Shiva Sutra. O tambor-ampulheta também representa os princípios vitais do masculino e do feminino. Dois triângulos penetram a si mesmos para formar um hexágono e, quando se partem, o universo também se dissolve.

No lado oposto, a mão esquerda superior (cujos dedos formam uma meia-lua), mostra na palma uma língua de fogo. Nós sabemos que o fogo é o elemento da destruição do mundo. De acordo com a mitologia hindu, no término do Kali yuga (era na qual vivemos), o fogo aniquilará o corpo da criação, sendo ele próprio apagado pelo oceano do vazio. Dessa maneira as mãos se equilibram, som/fogo, criação/destruição, dando o balanço da dança.

A segunda mão direita faz o gesto abhaya-mudra - “não temas”, que confere proteção e paz. O dançarino é como um pai que nos embala.

A outra mão esquerda aponta para baixo, para o pé esquerdo erguido. Este é o pé que significa a liberação, onde encontramos refúgio e salvação. Para que alcancemos a união com o Absoluto, ele precisa ser venerado. O que mais me impressiona, e que eu particularmente acho interessantíssimo é que a mão que aponta para o pé tem uma pose que imita a tromba de um elefante. Esse gesto é conhecido como gaja-hasta-mudra, e nos lembra o filho de Shiva, Ganesha, o “Removedor de Obstáculos”.

O deus dança sobre o corpo prostrado do anão-demônio, de nome Apasmara Purusa. Purusa significa Homem e apasmara quer dizer Esquecimento ou Imprudência, por isso o anão simboliza a cegueira da vida, a ignorância humana. Toda a energia criativa só é possível quando o peso da inércia é superado e reprimido. O Dançarino nos fala para deixar de lado a complacência e reunirmos nossos atos.

O palco onde o deus dança é um anel de fogo e luz (prabha-mandala) que o circunda. Ele significa os processos vitais do universo e de suas criaturas. É também a energia da sabedoria, a luz transcendental do conhecimento da verdade, cuja dança emana da personificação do todo. A imagem repousa num pedestal de lótus, que aloca o universo no coração e consciência de cada um de nós. É provável que a origem do anel flamejante se refira ao aspecto destrutivo de Shiva-Rudra; mas a destruição, em Shiva, é idêntica à liberação.

O dançarino personifica e manifesta a energia eterna em suas cinco atividades (pañca-kriya). A primeira é a Criação (sristi), o derramar ou expandir. Depois a Preservação (sthiti), a duração. Em terceiro vem a Destruição (samhara), o retorno ou reabsorção, seguido por Encobrimento (tiro-bhava), o velar do verdadeiro ser por trás das vestes e máscaras das aparências, da indiferença, da manifestação de Maya. Por último a graça (anugraha) - a aceitação do devoto, o reconhecimento do iogue, a concessão da paz através de uma manifestação reveladora. Essa revelação é não apenas simultânea, como também seqüencial. Todas as cinco atividades são manifestadas em seqüência, simultaneamente à pulsação de cada momento, através das transformações temporais.

O movimento incessante e ondulante dos membros de Shiva Nataraja faz um contraste com a estabilidade da cabeça e a imobilidade do semblante de máscara. Shiva é Kala, “O Negro”, “O Tempo”; mas é também Maha Kala, “O Grande Tempo”, “A Eternidade”. Seus gestos precipitam a ilusão cósmica, seus braços e pernas velozes, o ondular do torso produzem a contínua criação-destruição do universo, a morte contrabalançando de modo preciso o nascimento, a aniquilação como fim de cada criação. A coreografia é o redemoinho do tempo. O ritmo cíclico é marcado pelas batidas dos pés do Mestre. Mas a face mantém-se calma e soberana. Há uma tensão entre a dança e a serenidade de seu semblante: é a tensão entre a eternidade e o tempo. Nós temos a tendência de nos apegarmos à dualidade, com ansiedade e prazer. Mas a dualidade na verdade não existe. A ignorância, a paixão, o egoísmo, desintegram a experiência da essência suprema, na ilusão de um mundo de existências individuais. Este mundo, entretanto, EXISTE, apesar de toda sua fluidez, e jamais terá fim.

O cabelo do Shiva é um capítulo à parte. Eles são longos e revoltos, metade soltos e a outra parte encontra-se presa, como se fosse uma pirâmide. Uma energia vital sobrenatural, correspondente ao poder da magia, reside nesses cabelos enredados que a tesoura jamais tocou. Eles se expandem, formando duas asas à esquerda e direita, uma aura em suas ondas mágicas, a exuberância da vida sensorial.

Sabemos que grande parte do charme feminino está na fragrância, no brilho de uma linda cabeleira. É o apelo sensual do Eterno Feminino, poder criador. Por isso, quem quer renunciar às forças geradoras do reino animal, indo contra os princípios procriadores da vida, do sexo, da terra e da natureza, para ingressar na via espiritual do ascetismo absoluto deve raspar os cabelos. Isso é uma representação de um ancião, cujos cabelos já caíram, e que já não é mais parte da cadeia de geração.

Já o Shiva é duas coisas opostas: o asceta arquetípico e o dançarino arquetípico. Por um lado ele é a serenidade total, a calma absorvida em si, absorto no vazio do Absoluto, onde todas as distinções se fundem e dissolvem, todas as tensões estão em repouso. Mas por outro lado ele é a atividade total, a energia da vida, frenética e lúdica.

O dançarino representa não apenas um evento qualquer de uma deidade local, mas uma visão universal onde as forças da natureza e as aspirações e limitações do homem confrontam-se e são unidas. Se alguém tivesse que escolher um único ícone para representar o extraordinariamente rico e complexo patrimônio cultural da Inda, o Shiva Nataraja poderia ser o candidato mais indicado.


quinta-feira, outubro 04, 2007

Meu querido


Você tem razão em tantas coisas que diz pra mim. É verdade que às vezes eu não escuto, minhas piscianices me isolam num mundo só meu. Mas eu entendo você sim, e reconheço tudo o que já fez por mim. Você esteve ao meu lado nesses últimos três anos, e já segurou todas as barras possíveis. Me apoiou, me confortou, me ensinou, e me deu um amor maior que tudo o que eu já conheci. Com você seguirei meu caminho, principalmente o caminho dos deuses, pois é você quem eu quero. O amor que eu sinto por você é algo grande demais, imenso, infinito. Você me fez, faz e sempre fará muito feliz e eu quero fazer o mesmo por ti. Por MAYA.


Ivete Sangalo - A Lua Que Eu Te Dei


Posso te falar dos sonhos, das flores

de como a cidade mudou

Posso te falar do medo, do meu desejo

do meu amor

Posso falar da tarde que cai

E aos poucos deixa ver no céu a Lua

Que um dia eu te dei


Gosto de fechar os olhos

Fugir do tempo, de me perder

Posso até perder a hora

Mas sei que já passou das 6

Sei que não há no mundo

Quem possa te dizer

Que não é tua a Lua que eu te dei

Pra brilhar por onde você for

Me queira bem

Durma bem

Meu Amor


Posso falar da tarde que cai

E aos poucos deixa ver no céu a Lua

Que um dia eu te dei

Pra brilhar

Por onde você for

Me queira bem

Durma bem

Meu amor

Durma bem

Me queira bem

Meu Amor

terça-feira, outubro 02, 2007

Amor eterno


Esse final de semana foi extremamente especial. Especial porque eu tive a oportunidade de entrar em contato com uma das pessoas que eu mais amo na minha vida. Saber que esse amor é correspondido e eterno me deixou mais que feliz. Mas o que realmente me tocou foi saber que essa pessoa está bem, em paz. Que aprova as escolhas que eu fiz. Essa descoberta foi feita no meio de pessoas que eu amo, amigos queridos, para os quais eu entreguei minha alma, sem reservas. Pessoas que estão me ajudando a encontrar meu caminho espiritual, a entrar em contato com a minha deusa. As experiências que eu tenho vivenciado neste último ano são indescritíveis e não há nada no mundo hoje que possa me desviar do meu caminho. Em resumo, estou feliz por ser quem sou e por ter os amigos que tenho.