quarta-feira, junho 04, 2008

Mulher Védica: Amor, Cultura, Sorte!


Parte 1: Estima & Educação

No dia 1 de março de 2001, a Suprema Corte Indiana, em uma decisão judicial histórica, afirmou que as mulheres hindus sozinhas não podem formar uma família. Ela disse que o conceito de mulheres hindus formando uma família por um acordo entre elas é contrário a um princípio básico da lei pessoal hindu, que requer a presença de um homem para constituir uma família.

Lições dos Vedas
Você não acha que a lei pessoal hindu precisa de uma emenda? Talvez a corte devesse aprender com a antiga filosofia hindu dos Vedas, que diz:

"O lar tem, em verdade, sua fundação na esposa" (Rig Veda).

Na verdade, os direitos desfrutados pelas mulheres indianas modernas são escassos se comparados com aqueles das suas contrapartes védicas. Logo, as mulheres de hoje devem empenhar-se em ganhar de volta a glória perdida e a liberdade que eram suas na Índia védica, mais de 3000 anos atrás.

Durante a era védica, às mulheres era concedido um alto lugar na sociedade. Elas compartilhavam uma reputação igual a dos homens de sua tribo e desfrutavam uma espécie de liberdade que na verdade tinha sanções sociais. O antigo conceito filosófico hindu de ‘shakti’ - o princípio feminino de energia - também foi um produto dessa era. Daí surgiu a adoração de ídolos femininos e deusas.

Nascimento da Deusa
Acredita-se que as formas femininas do Absoluto e as populares deusas hindus surgiram nas era Védica. Essas formas femininas vieram para representar diferentes qualidades e energias femininas de Brahman. Kali retrata a energia destrutiva, Durga a protetora, Lakshmi a nutridora, e Sarasvati a criativa.

Aqui é notável que o Hinduísmo reconheça tanto os atributos masculinos quanto os femininos do divino, e que sem honrar os aspectos femininos, ninguém pode afirmar conhecer Deus em sua totalidade. Então há também muitas duplas divinas feminino-masculinas como Radha-Krishna, Sita-Rama, Uma-Mahesh, e Lakshmi-Narayan, onde a forma feminina é geralmente citada antes.

Educação, por Escolha!
A literatura védica louva o nascimento de uma filha estudiosa nessas palavras: "Uma moça também deve ser criada e educada com grande esforço e cuidado" (Mahanirvana Tantra); e "Todas as formas de conhecimento são aspectos Teus; e todas as mulheres ao redor do mundo são formas Tuas" (Devi Mahatmya).

As mulheres que assim queriam podiam passar pela sagrada cerimônia do fio ou 'Upanayana' (um sacramento para seguir os estudos védicos), que hoje em dia só é possível para homens. A menção de mulheres acadêmicas e sábias da era védica como Vac, Ambhrni, Romasa, Gargi e Khona no saber védico corrobora essa visão. Essas mulheres altamente inteligentes e muito instruídas, que escolhem o caminho dos estudos védicos, eram chamadas 'brahmavadinis', e mulheres que optavam não estudar para casa eram chamadas 'sadyovadhus'. Co-educação parece ter existido nesse período, e ambos os sexos tinham igual atenção de seus tutores. Além disso, as mulheres da casta Kshatriya recebiam cursos de artes marciais e treinamento com armas.

Parte 2: Casamento, Viuvez & Prostitução

O casamento e a vida de casada quase sempre são importantes para uma mulher. Como era o casamento na era védica? Eram permitidos divórcios, recasamentos e prostituição nessa época? Como era ser uma esposa de um homem védico? Vamos tentar achar respostas para essas questões.

Casamento
Oito tipos de casamento eram prevalentes na era védica, dos quais quatro eram mais proeminentes. O primeiro era 'brahma', onde a filha era dada como um presente para um bom homem instruído nos Vedas; o segundo era 'daiva', onde a filha era dada como um presente para o sacerdote que presidia o sacrifício védico. 'Arsa' era o terceiro tipo, onde o noivo tinha que pagar para conseguir a dama, e 'prajapatya', o quarto tipo, onde o pai dava sua filha para um homem que prometesse monogamia e lealdade.

Na era védica, havia tanto o hábito de 'Kanyavivaha', onde o casamento de uma garota antes da puberdade era arranjado por seus pais, quanto o 'praudhavivaha', onde as moças casavam apenas depois da puberdade. Havia também o costume do ‘Swayamvara', onde a moça, geralmente da família real, tinha a liberdade de escolher seu marido de um grupo de solteiros convidados à sua casa para a ocasião.

A vida de Esposa
Assim como nos dias de hoje, depois do casamento a moça se tornava uma 'grihini' (esposa) e era considerada 'ardhangini' ou uma metade do ser de seu marido. Ambos constituíam a 'griha' ou lar, e ela era considerada sua 'samrajni' (rainha ou dona) e tinha uma responsabilidade igual na prática dos ritos religiosos.

Divórcio, Recasamento & Viuvez
Divórcio e recasamento de mulheres eram permitidos sob condições muito especiais. Se uma mulher perdesse seu marido, ela não era forçada a passar pelas práticas impiedosas que surgiram nos últimos anos. Ela não era obrigada a tonsurar sua cabeça, ou tinha que usar sari vermelho ou cometer 'sahagamana' ou morrer na pira funerária de seu marido morto. Se ela escolhesse, poderia viver a vida de uma 'sanyasin' ou eremita, depois que o marido morresse.

Prostitução
Prostitutas faziam parte da sociedade védica. Elas eram permitidas de ‘fazer a vida’, mas tinham que seguir um código de conduta. Elas eram conhecidas como 'devadasis' — as moças que eram casadas com Deus em um templo e esperava-se que passassem o resto de suas vidas como sua dama servindo os homens na sociedade.

Parte 3: Quatro Famosas Figuras Femininas

As mulheres do período védico (cerca de 1500-1200 AEC) eram ícones de realização intelectual e espiritual. Os Vedas têm muito a dizer sobre essas mulheres, que tanto complementaram quanto suplementaram seus parceiros masculinos. Quando se tem que falar de figuras femininas significantes do período védico, quatro nomes - Ghosha, Lopamudra, Sulabha Maitreyi, e Gargi - surgem à mente.

Ghosha
A sabedoria védica é encapsulada numa miríade de hinos, e 27 mulheres-profetas emergem deles. Mas a maioria delas são meras abstrações, exceto algumas, como Ghosha, que tem uma forma humana definida. Neta de Dirghatamas e filha de Kakshivat, ambos compositores de hinos em louvor aos Ashwins, Ghosha possui dois hinos inteiros no décimo livro, cada um contendo 14 versos, atribuídos em seu nome. O primeiro louva os Ashwins, os gêmeos celestiais que também são médicos; o Segundo é um desejo pessoal expressando seus sentimentos íntimos de desejos pela vida de casada. Ghosha sofria de uma doença incurável que a desfigurava, provavelmente lepra, e se manteve solteira na casa de seu pai. Muito ela implorou aos Ashwins e a devoção de seu pai e avô para com eles os fizeram curá-la de sua doença e a permitiram experimentar a felicidade das bodas.

Lopamudra
O Rig Veda ('Conhecimento Real’) tem longas conversas entre o sábio Agasthya e sua esposa Lopamudra que comprovam a grande inteligência e bondade dela. A lenda diz que Lopamudra foi criada pelo sábio Agasthya e foi dada como a filha do Rei de Vidarbha. O casal real deu a ela a melhor educação possível e a criou com muito luxo. Quando ela atingiu a idade de casar, Agasthya, o sábio que estava sob os votos de celibato e pobreza, queria tê-la. Lopa aceitou casar-se com ele, e deixou seu palácio para o eremitério de Agasthya. Depois de servir seu marido lealmente por um longo período, Lopa se cansou de suas práticas austeras. Ela escreveu um hino de duas estrofes fazendo um apelo fervoroso por sua atenção e amor. Logo depois, o sábio percebeu suas obrigações para com sua esposa e conduziu tanto sua vida doméstica quanto ascética com igual zelo, alcançando a totalidade de poderes espirituais e físicos. Um filho nasceu para eles. Ele foi chamado Dridhasyu, e depois se tornou um grande poeta.

Maitreyi
O Rig Veda contém em torno de mil hinos, dos quais cerca de dez são creditados a Maitreyi, a mulher profeta e filósofa. Ela contribuiu para o crescimento da personalidade do seu marido-sábio Yajnavalkya e ao florescimento de seus pensamentos espirituais. Yajnavalkya tinha duas esposas, Maitreyi e Katyayani. Enquanto Maitreyi era versada nas escrituras hindus e era uma 'brahmavadini', Katyayani era uma mulher comum. Um dia o sábio decidiu fazer um arranjo de suas posses mundanas entre suas duas esposas e renunciar ao mundo, seguindo votos ascéticos.
Ele perguntou a suas esposas o que queriam. E culta Maitreyi perguntou a seu marido se toda a riqueza do mundo a tornaria imortal. O sábio respondeu que riqueza pode somente tornar alguém rico, nada mais. Ela então pediu a riqueza da imortalidade. Yajnavalkya ficou feliz ao ouvir isso e deu a Maitreyi a doutrina da alma e seu conhecimento sobre alcançar a imortalidade.

Gargi
Gargi, a profetisa védica e filha do sábio Vachaknu, compôs diversos hinos que questionavam a origem de toda a existência. Quando o Rei Janak de Videha organizou um 'brahmayajna', um congresso filosófico centrado no sacramento do fogo, Gargi foi uma das eminentes participantes. Ela desafiou o sábio Yajnavalkya com uma torrente de perguntas pertubadoras sobre a alma ou 'atman' que confundiram o erudito que tinha até então silenciado muitos acadêmicos. Sua pergunta - "A camada que está acima do céu e abaixo da terra, que é descrita como estando situada entre a terra e o céu e que é indicada como o símbolo do passado, presente e futuro, onde está localizada?" - iludiu até grandes homens védicos de letras.

http://hinduism.about.com/library/weekly/aa031601a.htm?nl=1

Nenhum comentário: