terça-feira, abril 25, 2006

Proteção



Jorge sentou praça na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia

Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham maõs e não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcacem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo o pensamento eles possam ter para me fazeram mal

Armas de fogo meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e corentes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de jorge
Jorge é de capadócia
(Caetano Veloso)

Transgênicos SIM!


Não, isso não é uma convocação para o próximo referendo que vai autorizar a comercialização ou não dos alimentos geneticamente modificados. Até porque eu espero que o governo não coloque nas mãos do povo brasileiro (em sua grande maioria desinformado) a decisão de permitir ou não o progresso científico, já basta colocarem analfabetos para escolherem o presidente (também analfabeto)... O que eu pretendo com esse artigo é mostrar que os alimentos transgênicos não são altamente periculosos, como gostam de afirmar alguns ecochatos, e que, ao contrário, podem ser a única alternativa para a alimentação da população mundial em alguns (poucos) anos.

Pra começar, vou explicar o que vem a ser um alimento geneticamente modificado. Em primeiro lugar, o homem já vem modificando geneticamente as plantações e criações há mais de 10.000 anos, a partir da reprodução seletiva. Ou seja, escolhe-se, por exemplo, as espigas de milho que mais produzem e mais resistem às pragas e as cruzam entre si, para originar espigas cada vez maiores e melhores. Pois é, ou você acha que os índios brasileiros colhiam espigas como as que comemos hoje? E, querendo ou não, isso É alteração genética. Para se ter uma idéia, as plantas e animais domésticos atuais foram tão modificados geneticamente, que dificilmente sobrevivem sem intervenção humana. Mas o que os cientistas estão fazendo hoje é um pouco diferente. Com o advento da técnica do DNA recombinante, é possível escolher as características que se quer dar a um organismo independente de cruzamentos. Dessa maneira, ao invés de ficar cruzando indefinidamente linhagens diferentes de milho, você pode simplesmente inserir nele um gene que faz com que sua produção aumente, e outro gene que o torne resistente a uma praga determinada e específica.

O problema é que as pessoas acreditam que o mundo científico é completamente desprovido de ética (confundem-no com a esfera política). Além disso, há limites impostos pela tecnologia ainda recente. Só que a mente das pessoas é extremamente criativa, e como na imaginação as pessoas sempre reencontram com seus mitos, logo imaginaram Frankenstein passeando pelas ruas, com genes de um e de outro escolhidos e introduzidos aleatoriamente no ser humano. Até mesmo Watson, que descobriu a estrutura do DNA e fundou por conseqüência a genômica, incitava a imaginação, chamando os novos seres produzidos pela engenharia genética de quimeras.
O que geralmente não é dito é que a própria comunidade de pesquisadores, que participaram dos experimentos fundadores, tomaram a decisão de declarar uma moratória científico-tecnológica e de promover a adesão a ela da comunidade internacional enquanto não se estabelecessem diretrizes e normas seguras para as pesquisas na área.

A famosa Conferência do Monte Asilomar, nos EUA, em 1975, formalizou essa decisão e promulgou a necessidade de se manterem sob rigorosas condições de proteção e de isolamento todos os experimentos de recombinação genética e os organismos deles resultantes pelo tempo necessário à produção de certezas de que não seriam nocivos à humanidade e ao meio ambiente.
Mas quais são os riscos reais que os transgênicos oferecem? Na verdade, nenhum risco maior que qualquer outra técnica de manejo. O que se diz, na campanha contra os transgênicos, é que eles não são seguros ou estáveis, levando a população a pensar que ao comer um alimento transgênico está correndo o risco de que os genes inseridos de repente "pulem" do alimento para o organismo. Ora pois, já vi muita gente com cara de feijão por aí, mas isso não se deve ao fato de terem comido uma feijoada no boteco de Zé no último sábado. Isso é impossível de acontecer. O que realmente é um risco é que, ao tornar as plantas mais resistentes, tornam-se resistentes também as pragas que atacavam a planta. Mas, não é exatamente isso que fazem os agrotóxicos? E com um ônus muito maior, poluindo solos, rios e, algumas vezes, até lençóis de água.

Deve-se também levar em consideração o lugar em que vivemos. A economia do Brasil é baseada e completamente dependente do agronegócio. O que acontece se descartarmos a possibilidade de utilizar a tecnologia dos trangênicos na produção de grãos daqui? Ficaremos, mais uma vez, pra trás... Tem que se aproveitar o momento, não adianta correr atrás do ônibus depois que ele passa. E o momento é agora. Momento de progredir cientificamente, sem deixar que ecochatos sem instrução científica fiquem passando adiante para a população desinformada achismos sem cabimento.

Então, da próxima vez que você for devolver um produto para a prateleira por ele conter transgênicos, pense duas vezes. Você pode estar comprometendo o futuro da ciência brasileira.

Por isso Transgênicos: VOTE SIM!

terça-feira, abril 11, 2006

Porto Seguro


Depois que ancorei em seu porto, mandei queimar meu navio...

quinta-feira, abril 06, 2006

terça-feira, abril 04, 2006

Minha rosa cor de rosa



O dia hoje está perfeito. Não fossem as aulas que eu tenho que dar, raptaria meu namorido e iria com ele à nossa praça. Sentiríamos o vento agradável que sopra e nos sentaríamos no nosso banco, deixando que a luz, filtrada pelas folhas, de leve queimasse nossa pele. E assim ficaríamos toda a tarde, como ficamos uma vez... O outono pede decisões e por isto, pode ser triste. Mas não o meu. Sou feliz como nunca fui antes! Para mim, os Ares de outono significam que daqui pra frente tudo só melhora! Apenas vou seguindo a direção já estabelecida. Vou para frente, sempre. Afirmo lasciva e deliciosamente que minhas letras são dele. E, o futuro, será como hoje! Ou como hoje deveria ser...

Beijos e folhas secas desta estação que a cada dia se apaixona mais e mais pelas letras e tenta a todo custo ser feliz...

No outono desta vida recomponho
As horas que de novo viveria
Se pudesse voltar aquele dia
Que me semelha o espaço deste sonho

(Manoel Bandeira)

sábado, abril 01, 2006

Palavras Indígenas II

Narrativas sobre a origem do mundo




O Irmão de Eva – Sateré-Mawé

Vidal, rio Manjuru (AM) – 1996

Antigamente a gente não morria, porque todos nós, índios, morávamos lá, no nusoquen [terreiro de pedra]. Lá foi a primeira terra que nós habitamos.

Mas foi depois que existiu a morte, que a irmã dele morreu, quando ele abandonou essa casa primeira, que ele convidou o Adão. Tupana mandou eles saírem de lá, daquela paragem. “Olha, Adão, chama teu povo para siar daí, daquela paragem”. Ele falou assim: “Adão, chama teu povo para continuar, para ele ir embora, para sair daí. Vai ter muitas frutas pelas matas que vocês vão atravessar. Mas eu não quero que vocês fiquem se entretendo. Eu vou na frente”.

Ele insiste: “Vocês vão ter muita fruta, mas vocês não vão se entreter”. Mas o Adão é teimoso. Quando ele chegou lá, numa fruteira, ele trepou e foi cortar o galho da fruteira. Lá o povo dele se entreteve, quando eles seguiram, seguiram e seguiram. De noite já, eles encontraram uma sorveira. Estava cheio de fruta, ele derrubou e eles demoraram mais uma vez. Eles já estavam na viagem, mas ficavam se entretendo por aí. Encontraram também uma árvore de caramuzeiro e lá o Adão trepou de novo. E em vez deles seguirem na frente, sem se entreter, não, eles se pararam na fruta até o anoitecer. Lá eles acamparam e, quando foi de dia, seguiram. Encontraram logo uma bacabeira e apanharam muita bacaba. Aí, eles se entretiveram, fizeram um bule de vinho e o beberam todinho. Lá eles fizeram um barraco, de novo, para dormir. Quando se lembraram que Deus lhes tinha mandado ir na frente: “Podem ir embora, que tal dia eu vou pra lá”. Aí nessa lembrança, ele disse: “Eu não disse para vocês irem embora? Para quando eu chegasse, eu ia fazer um barco, uma canoa”. O velho veio por onde eles vieram. Por onde eles vieram, Deus passou também. Lá, ele encontrou de novo uma árvore derrubada. “Puxa vida, eles não me ouviram. Bem que eu falei para eles que não se entretivessem nas coisas”. Ele andou um pouquinho e lá encontrou, de novo outra ávore derrubada. Lá, ele achou foi barraco. “Aqui, eles ficaram”. Ele andou, andou, de novo e lá ele encontrou outra fruteira derrubada. “Puxa vida; o Adão não me ouviu que eu falei para não se entreter com o pessoal dele. Eu disse a ele que, à tarde, eu ia lá com eles. Quando chegasse lá, já ia estar pronto para ir embora”. Ele os encontrou, lá onde tinham se entretido: “Puxa, Adão, você não ouviu o que eu disse para você. Eu falei para você vir embora. Então, eu já vou”. E ele passou na frente e eles ficaram para trás. “Eles ficaram para trás, porque o Adão não ouviu o que eu lhes disse”. Durante a sua viagem, ele falou a um passarinho weitapin “joga no caminho um bocado de serrado para eles não descobrirem mais por onde eu fui”. De repente, o seu rasto ficou coberto e eles não souberam mais por onde seguí-lo.

Quando chegou na beira do rio, ele atravessou – ele é poderoso, né? Era um rio bem grande. De repente ele transformou uma pedra numa cachoeira e eles não conseguiram mais passar. Eles chegaram até a beira, lá eles corriam de um lado para o outro e gritavam: “Ei! Para onde que vocês foram!? Para onde que vocês foram!? Como que vocês atravessaram!?”. E escutaram o baque; era que estavam fazendo navio para eles irem já, para irem para fora. Porque Deus fez aquele barco para eles irem embora. Mas o Adão, que não ouviu conselho, ele ficou. E ele chamou, chamou. Até que Deus respondeu: “Olha, Adão, eu já não dei conselho para ti? Para tu me seguir com teu povo, mas tu não me ouviste. Tu vais ficar”. Ele chamou mais ainda, e Deus respondeu do outro lado: “Olha, Adão: Eu achei melhor que você ficasse mesmo. Porque se nós abandonarmos toda a nossa terra, não iria dar certo. Vocês têm que trabalhar. Vocês têm que voltar. Tu tens que dizer para a tua mulher, para Eva: É melhor que nós vamos embora para nossa casa. Porque ele convidou, mas nós não ouvimos o conselho, então nós temos que voltar, nós temos que trabalhar muito porque nós temos muita plantação [sese motpap ipoityp mikoí]”. Aí, eles cuidaram de ir de novo para lá de onde eles vieram. Se eles tivessem ouvido o conselho de Deus, nós não íamos ficar como nós, na mata. Nós não íamos trabalhar na roça. Mas nós não aproveitamos nadinha.

Aqueles que foram com Deus, estão trabalhando para irem embora. Mas eles não, os que ficaram, se entretiveram na fruta. Ela se lembrou e disse: “Eu tenho um irmão que me deu machado, terçado, ferro de cova, e eu deixei; por isso nós temos que ir embora de novo”. Disse Eva, convencendo seu marido.

O passarinho tikwã [Mimus gilvus. Mimidae] estava dizendo, cantando lá em cima do barco deles: “tikwã, tikwã”: “Olha, não demora: a chuva já vai arriar”. Aí o Imperador, que era o secretário de Deus, o velho, disse: “Mas o que diacho esse passarinho está adivinhando!?”. E se pôs a ralhar com ele, achando que estava mais do que abusado da cara. Aí, falou umas coisas para o tikwã. E este respondeu: “Não, esse barco de vocês está para sair, para vocês ir embora”. O Imperador falou para ele não cantar mais perto dele. Deus tirou o livro de debaixo do braço. Puxou e aí, o Imperador olhou e disse: Está certo, o que Deus falou está certo. É o dia mesmo. Aí, não demorou e a chuva arriou. Aí criou aquela grande água, lá onde o navio estava. Choveu, choveu, choveu, até que conseguiu sair aquele braco de lá, de cima da terra. Aí eles se embarcaram e foram embora, se escondendo da morte.

Eles foram embora se esconder de muitas doenças. O vento é que transmite a doença: de muito longe vem febre, gripe, tudo quanto é doença. Eles se queriam esconder de tudo isso, mas não teve jeito.

Toran

O Imperador era Índio

Alfredo Barbosa (Porto Alegre, rioAndirá, AM, 1996)

A primeira pessoa que nasceu foi tapuya, depois foi o karaiwa. Por isso que os tapuya-in ficaram como donos da mata na'apy kaiwat, eles moram na própria tera mesmo. Depois apareceu uma pessoa, "o Imperador" que disse que era para eles não ficarem na mata e sim para irem para yarupap ["lugar onde estão encostados os barcos"]... "Lá... não sei para onde".

O Imperador falou: "Vamos embora para baixo, para fora". Lá foram eles, foram andando, mas encontraram fruteiras e ficaram entretidos e deixaram de caminhar. O Imperador foi na frente e chegou no barco e esperou lá muito tempo. Mas como o povo não chegava, ele convidou a nação waçaria ("Sapos")1, para remar para ele. Na época não existia motor. E se foram para ywysasare2. O Imperador era índio. Ele deu a educação we'eghap [conhecimento, saber]. Ele disse: "Vocês aprenderão fazer muita coisa". Os que foram remando, a nação sapo [waça], ficou na cidade [tawa wato: aldeia grande] e nós ficamos aqui no mato. Eles deram origem aos brancos como vocês, aos japoneses, americanos, são todos magka?i, aquele sapinho branco. Lá ele deu inteligência para fazer avião, rádio, televisão. Ele achou que era bom que tapuya ficasse cuidando de tanta riqueza que tinha nos matos e disse que um dia ele mandava alguém trazer espingarda, machado, terçado, máquina, machado novo, para trocar por produto. São os regatões. Ele disse que um dia ia contribuir com essas coisas que hoje estão nas cidades e que o regatão traz. Morekuaria mit po'oro koi, isto é o que as autoridades mandam.

Toran

1- Um dos numerosos clãs (ywaniaria) que constituíram o povo Sateré-Mawé.
2- Expressão antiga traduzida como "para fora".


Uruhe’i e Maripyaipok

Dona Maria Trindade Lopes (Vida Feliz, rio Andirá, AM, 1996)

Existiram dois irmãos que iam descendo quando o imperador o chamou para descer pra fora (à jusante). Uri era o nome da mulher, mas como quando iam descer ela cochichou [‘he?i-‘he?í] ao ouvido do irmão que ela tinha esquecido uma coisa: o seu banco, foi chamada de Urihe?i: Uri cochichou: Urihe?i-he?i. O irmão dela chamava Mari, mas como ele voltou, também a causa do apelo da irmã, chamaram ele Mari-aipok: Mari voltou: Mari py aipok: [Mari pé voltou]. Uri era o nome de Eva em língua sateré. Dela surgiram todos os sateré.

Toran