sábado, março 18, 2006

Ciência versus Religião

A inútil luta sem fim

É cansativo observar que cada vez mais dois campos tão interessantes e enriquecedores se afastam. Essa, que é uma guerra que vem se arrastando há séculos, se encontra na mais recente batalha: a luta dos conservadores contra os avanços da biotecnologia.


Eu sou pagã. Admiro as forças da natureza e reconheço os poderes dos deuses. Eu sou bióloga. Faço pesquisas laboratoriais e entendo do funcionamento de um organismo vivo. Ora, vocês me perguntam, como é possível acreditar de verdade em ambos? Muito simples, eu respondo. Quanto mais eu estudo Biologia, mais eu acredito nos Deuses!


Ao estudar o funcionamento de uma célula simples, como de uma bactéria por exemplo, e observar como todos seus processos bioquímicos se encaixam perfeitamente, é impossível não ficar fascinado e pensar: quem pensou nisso? Não estou apoiando aqui uma teoria criacionista, como os americanos estão querendo implantar em seu sistema educacional. A vida não veio prontinha, não começou há 10.000 anos atrás, mas uma inteligência superior deve ter pensado em todos os ingredientes a serem adicionados nesse imenso caldeirão que é o nosso planeta. E a evolução pôde seguir seu curso.


O que eu estou querendo afirmar é que é possível acreditar em deus(es) e na ciência ao mesmo tempo. Tanto um quanto outro falam com mundos diferentes da experiência humana. Darwin, quando elaborou "Origem das Espécies", acreditava em Deus. Galileu, quando negou sua teoria para se salvar da Inquisição, acreditava no poder da oração. Outro dia li em um artigo que foi descoberto um "gene de deus". As pessoas que possuíam esse gene ativado tinham uma propensão maior à fé. Os ateus também possuíam esse gene, mas nessas pessoas ele se encontrava "desligado". Já é conhecido de longa data que as pessoas que possuem algum tipo de fé são mais resistentes a doenças e também se recuperam mais rapidamente de infecções. Mas o que me surpreendeu é que essa característica é passada geneticamente, de pai para filho!!! É claro que a personalidade de uma pessoa também é resultado de seu ambiente cultural, mas existe uma predisposição regulando isso.


A ciência e a religião têm mais coisas em comum do que possam imaginar. Ambas compartilham o fascínio por coisas que não se podem ver. Os cientistas debatem sobre uma possível "beleza matemática" associada com dimensões que podem ou não existir. Os religiosos, por sua vez, discutem um possível motivo oculto na natureza que também pode ou não ser real. Os seres humanos são "programados" a procurar novos horizontes para onde possam escapar, mesmo que somente com a mente. Senão acreditássemos nesse "refúgios", nossa sobrevivência seria intolerável! Se observarmos um céu estrelado, esticando o braço e segurando uma moeda de, digamos, 10 centavos, nesse pequeno ponto coberto pela moeda há, aproximadamente, 100.000 galáxias como a nossa. A maioria delas contêm mais de 100 bilhões de estrelas, muitas contendo sistemas solares onde podem existir diversas formas de vida inteligente que ficarão, para sempre, escondidas de nós.


No intuito de tentar desvelar tudo o que é mistério para o entendimento humano, cientistas vem trabalhado arduamente nos últimos séculos. Recentemente, numa análise do mitológico Oráculo de Delfo, os cientistas descobriram falhas na rocha que deixam escapar gases intoxicantes, o que causaria o estado de transe da sacerdotisa. No entanto, o que não é possível explicar é porque seus pronunciamentos viraram marcos da sabedoria ocidental, influindo pensadores como Sócrates.


O que eu estou querendo dizer é que, eu acredito na ciência, até onde ela pode explicar. A partir daí, temos que deixar nas mãos dos deuses. São mistérios que só a fé pode resolver.


Finalizo com Carl Sagan em Pale Blue Dot (1994):


"Uma religião, seja ela nova ou antiga, que sublinhe a magnitude do universo revelada pela ciência moderna, deveria ser capaz de liberar cargas de reverência e respeito que não foram liberadas pelas fés convencionais. Mais cedo ou mais tarde, tal religião vai emergir."

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